Ulysses
Guimarães - Pedia para que a votação do impeachment fosse aberta, mas
não viu a queda de Collor. O helicóptero que o levava caiu e seu corpo
nunca foi encontrado
O impeachment de Fernando Collor de Mello,
o primeiro presidente eleito democraticamente após a ditadura militar,
é cercado de fatos que dão à história real um caráter de trama
ficcional - por vezes, com tons dramáticos. Um deles é que muitos dos
que foram personagens ativos dos acontecimentos que culminaram na
derrocada do ex-presidente em 1992 tiveram um fim ainda mais trágico: a
morte. Doenças e assassinatos misteriosos atingiram alguns dos que ou
atacavam o presidente ou participavam ativamente do seu governo.
Uma das vozes que pedia o impeachment de Collor na Câmara em setembro de 1992, Ulysses Guimarães
não chegou a ver a renúncia e a cassação do presidente. Em 12 de
outubro daquele ano, o deputado federal sofreu um acidente de
helicóptero ao deixar Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Morreram, além
de Ulysses, sua mulher, Mora, o ex-senador Severo Gomes e a esposa Ana
Maria. O corpo do deputado foi o único que nunca foi encontrado.
Pedro Collor de Mello,
irmão do ex-presidente, também viria a ter uma sina infeliz após ter
denunciado na imprensa o esquema orquestrado pelo ex-tesoureiro da
campanha de Fernando Paulo César Farias no governo. Pedro deu uma entrevista à revista Veja na qual afirmara categoricamente que PC Farias era "testa-de-ferro" de Collor em seus negócios.
Dois
anos depois, em 19 de dezembro de 1994, um câncer no cérebro provocava
sua morte prematura, aos recém-completados 42 anos. Ele possuía quatro
tumores malignos, o que impossibilitava uma cirurgia.
E não foram só os seus acusadores que morreram pouco após o impeachment. O pivô do escândalo de corrupção, PC Farias,
foi encontrado morto em 1996 junto à sua namorada, Suzana Marcolino, em
sua casa de praia em Guaxuma, Alagoas. A primeira tese, defendida por
um perito, foi a de que houvera um crime passional: Suzana teria matado
PC e, posteriormente, cometido suicídio.
Entretanto, no ano seguinte, o Ministério Público contratou outros
especialistas que afirmaram que o crime se tratava de um duplo
homicídio. Essa tese foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal no
ano passado e os quatro ex-seguranças de PC Farias, apontados como
coautores do assassinato, deverão ir a júri popular.
Pedro
Collor de Mello foi quem revelou na imprensa o esquema no governo
orquestrado por PC Farias. Morreu dois anos depois do impeachment, em
decorrência de um tumor
Segundo a 8ª Vara Criminal de Maceió, o julgamento de Adeildo Costa
dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos
e José Geraldo da Silva está na pauta mas não foi marcado até o
momento. A previsão é que ocorra ainda esse ano.
A mãe de Pedro e Fernando, Leda Collor de Mello,
teve uma participação relevante na época em que eclodiram as primeiras
denúncias contra o então presidente. Assim que Pedro revelou um dossiê
contra PC Farias à revista Veja, no início de maio, ela afastou o filho
da direção das Organizações Arnon de Mello, grupo de comunicações de
Alagoas fundado pelo marido.
O comunicado assinado por Leda dizia que Pedro fora afastado da
empresa da família, porque tinha problemas de ordem mental, o que foi
desmentido logo depois por exames aos quais ele se submeteu. Em
entrevista à Veja, posterior ao ocorrido, Pedro afirmara que sua mãe
havia sido manipulada a assinar seu afastamento. Pouco depois da morte
de seu caçula, Leda teve o mesmo destino. Em 25 de fevereiro de 1995,
ela faleceu, vítima de broncopneumonia.
Outra vítima da "maldição" da era Collor foi Elma Farias,
mulher de PC. Em 20 de julho de 1994, ela morreu em Brasília, devido a
um quadro de edema pulmonar agudo e insuficiência cardíaca. Cinco anos
depois, a sua irmã, Élia Bezerra, concedeu uma entrevista à revista
IstoÉ na qual garantiu que Elma havia sido assassinada.
"Mataram minha irmã e ninguém disse nada. Depois, assassinaram o
Paulo César e montaram um circo para proteger o assassino", disse Élia
na entrevista. Ela afirmou também que depois da fuga de PC do Brasil em
1994, a família Farias entrou em uma disputa desenfreada para
determinar quem ficaria com o controle do dinheiro - e isso teria
provocado a morte de sua irmã. Não houve qualquer confirmação do seu
relato.
PC Farias foi protagonista do escândalo que culminou no impeachment. Foi assassinado junto à sua namorada, Suzana Marcolino
Outra morte cercada de mistério foi a do ex-diretor de Habitação da Caixa Econômica Federal do governo Collor José Carlos Guimarães.
O corpo do amigo do ex-presidente foi encontrado no fundo da piscina de
sua casa, com pesos amarrados ao tornozelo, e foi atestado suicídio.
Ele respondia por 15 processos na Justiça por irregularidades
praticadas em seu período no governo e passava por problemas
financeiros, mas alguns amigos na época acreditavam que esses não
teriam sido motivos suficientes para que Guimarães se matasse. Ele
deixou um bilhete para a mulher e os filhos, no qual dizia estar
cansado da vida: "Perdoem o que estão fazendo", escreve, no plural. O
enterro de Guimarães foi o primeiro ao qual Collor compareceu após o
fatídico ano de 1992. Ele não esteve nos funerais nem do irmão nem da
mãe.
Brilhante!
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