O mês sagrado do Ramadã coincide neste ano com os Jogos Olímpicos de
Londres, e com isso os atletas muçulmanos vivem o dilema de serem fiéis
à sua religião ou à sua bandeira, ou seja, jejuar ou não jejuar durante
a competição. O Ramadã é um dos pilares do Islã: durante seus 30 dias o
muçulmano não pode comer, beber ou manter relações sexuais entre o
amanhecer e o pôr-do-sol, o que poderia ser fatal para as pretensões de
medalha dos atletas, particularmente quando o mês sagrado, como neste
ano, cai em pleno verão.
Lubna Salameh, da Jordânia, faz aquecimento durante os Jogos Asiáticos de 2006
No
entanto, Alá é clemente e misericordioso, como diz o Corão, e os ulemás
(sábios religiosos) consultados pela Agência Efe em diversos países
islâmicos dispensaram os atletas do rigor da abstinência sob a condição
de, uma vez passados os Jogos, jejuarem o número de dias que tiverem
faltado em sua obrigação.
No Marrocos, a federação de
ciclismo do país solicitou oficialmente a dispensa há mais de dois
meses a seus competidores. A Comissão de Ulemás demorou várias semanas
para pactuar uma "fatwa" dando a permissão para que eles comam e bebam
durante o período de disputas - embora essa licença deva ser
referendada pelo rei Muhammad VI, disseram à Efe fontes da comissão.
O
mesmo pedido foi feito pelo Comitê Olímpico do Egito ao mufti do país,
Ali Gomaa, que o aceitou por considerar que os atletas não podem
praticar exercícios físicos pesados se estiverem jejuando. Na Arábia
Saudita, um dos países muçulmanos mais rigorosos com as questões
religiosas, o Comitê Olímpico é paradoxalmente liberal, e seu diretor,
Khaled al Dajil, disse à Efe que corresponde a cada atleta decidir se
jejuará ou não, mas pessoalmente opina que os esportistas que vão a
Londres são viajantes e, como tais, o Islã os dispensa do jejum.
Já
na Jordânia, o Comitê Olímpico também assegura que dá liberdade a seus
membros, e um porta-voz assegurou que seus atletas podem se guiar pelas
"fatwas" expressadas por prestigiados xeques ou instituições
pan-islâmicas, que no passado demonstraram tolerância no tocante a
competições esportivas.
Peregrinos muçulmanos rezam no Monte Arafat, no sudeste da cidade sagrada de Meca
Neste sentido, a Academia de Pesquisas
de Al Azhar, no Cairo, que exerce certo magistério espiritual sobre uma
grande parte do Islã sunita, deixou clara mais de uma vez sua
tolerância no caso dos esportistas que pedem para ser eximidos do
jejum. "O esporte se tornou um trabalho no qual as pessoas se
especializam e pelo qual recebem um salário. Se esse trabalho for
prejudicado por causa do jejum, então é lícito rompê-lo", raciocina o
xeque Abdelmoti Bayumi, da Academia de Pesquisas.
Ainda assim, as opiniões expressadas por ulemás e muftis não são
vinculativas e cada esportista tem a autonomia de decidir se seguirá os
sábios muçulmanos ou se competirá em jejum. Apesar das recomendações, o
hábito do jejum está tão enraizado entre os muçulmanos que até entre os
eximidos, como doentes e grávidas, são muitos os que o seguem o Corão
ao pé da letra e ignoram as ordens de médicos.
Fonte: Ig
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