Em um artigo publicado no Jornal Valor Econômico, o Pastor Ed René Kivitz, líder da Igreja Batista da Água Branca analisou que a fé foi transformada em produto: “Vivemos os dias da religião sob medida, montada por consciências individuais que misturam os ingredientes disponíveis nas prateleiras do mercador religioso”, escreveu Ed René.
No artigo, Ed René aborda o tema da experiência pessoal com Deus. Ele afirma que a sociedade passou a não se submeter mais aos dogmas religiosos e à interpretação bíblica de líderes. “A sociedade moderna não abandonou Deus, mas colocou seus intérpretes e seus representantes coletivos sob judice”.
Na Europa, a diminuição do cristianismo está ligada diretamente a mudança no padrão de qualidade de vida, e atualmente a igreja já não faz parte do cotidiano das pessoas. Outro fator que se soma a isso é o crescimento do islamismo, que acontece pela necessidade de mão de obra, importada de países com tradição islâmica.
O assunto tem chamado bastante atenção e será tema da conferência internacional “Valores da Europa”, organizada pela Universidade de Tilburg, Holanda. Teólogos, antropólogos e outros estudiosos participarão do evento, que terá dois temas centrais: religião e a diversidade étnica e cristãos X muçulmanos. “O discernimento pessoal e um olhar mais crítico nos levam a questionar os fundamentos da fé e as explicações religiosas do mundo”, avalia Fréderic Lenoir, sociólogo especializado em religião.
“A igreja é chata”. Segundo pesquisa desenvolvida durante cinco anos pelo Barna Group, com jovens, adultos, adolescentes, pastores evangélicos jovens e pastores mais idosos, um dos pontos que estão ligados ao declínio do cristianismo é a dificuldade de se comunicar com os jovens em uma linguagem que eles compreendam, e o fato de as igrejas se recusarem a debater assuntos polêmicos: 25% dos jovens entrevistados, com idade entre 18 e 29 anos, afirmaram que “os cristãos demonizam tudo que não tem a ver com a igreja”; 22% reclamaram do descaso da igreja com problemas da sociedade; 18% contaram que seus líderes parecem mais preocupados em “apontar impactos negativos de filmes, músicas e videogames” ao invés de tornar suas experiências com Deus mais intensas; 25% acreditam que “o cristianismo é contra a ciência”, e por fim, 30% declararam que “os cristãos parecem confiar no fato de que conhecem todas as respostas”. Em geral, o relatório da pesquisa aponta para o fato de que os jovens ficam com a nítida impressão de que a igreja não acolhe bem os questionamentos feitos por eles.
Essa pesquisa foi feita em países europeus, e, portanto, reflete a realidade de jovens que vivem em países de Primeiro Mundo. No artigo escrito por Ed René Kivitz, ele afirma que nos países de Terceiro Mundo “a religião nunca saiu de moda. Conceitos como modernidade e pós-modernidade passam longe dos dilemas de quem vive na miséria extrema”.
O aumento da população urbana também é um fator que influência nesse afastamento. Frédéric Lenoir ressalta que “nas cidades, as pessoas não conhecem o vizinho, os filhos vão estudar longe de casa e se distanciam dos moldes tradicionais. Esse tipo de comportamento fragiliza a transmissão da fé”.
A evolução científica, que trouxe mais conforto, porém não solucionou problemas como guerras, fome e justiça, Ed René analisa que na prática, o resultado é um grande prejuízo às tradições. “O saldo da modernidade é o rompimento com as instituições sociais religiosas e o abandono da pessoa à sua própria consciência e à mercê de sua liberdade”, Kivitz. Segundo ele, por esse motivo a sociedade, decepcionada com a modernidade e suas promessas “voltam a correr para as categorias do sagrado, do transcendente do divino”. Para o teólogo, “o atual retrato da fé permite a afirmação de que, se é verdade que as instituições religiosas estão abaladas, Deus continua vivo como sempre, e adorado – e idolatrado – como nunca”.
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