Produto é sucesso de vendas em Juazeiro do Norte, mas tem componentes que fazem mal aos devotos
Dor de cabeça, no corpo e nas juntas, reumatismo, frieira, ferida aberta e inchaço. Há pelo menos 100 anos a pomada e o bálsamo de Padre Cícero são vendidos em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, a 520 quilômetros de Fortaleza, prometendo curar quase todo tipo de doença – ou pelo menos amenizar. Mas, agora, a produção e o comércio desses “milagre enlatados" estão ameaçados.
As receitas dos “santos remédios”, supostamente deixadas por Padre Cícero, são vendidas pelos comerciantes de Juazeiro do Norte como sendo feitas com produtos naturais. Eles asseguram que as fórmulas só levam ervas medicinais e são potencializadas pela fé em Padre Cícero, mas uma analise do Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) identificou a presença de material que pode ser prejudicial à saúde.
Depois de quase um século de comércio desses produtos, a Vigilância Sanitária da cidade resolveu agir. Colheu amostras, mandou para análise e encontrou amoníaco, parafina e essência para perfumes nas misturas. “Eles usavam a amônia, as essências de canfora e hortelã para dar perfume. Se não for cheiroso, o romeiro não compra”, explica o inspetor sanitário Carlos Alberto de Azevedo, um dos responsáveis pela ação que resultou na apreensão de milhares desses produtos. Cerca de 2,5 milhões de romeiros vão à cidade todos os anos.
A latinha de pomada Padre Cícero custa, em média, R$ 5. O bálsamo, vendido em garrafas de todos os tamanhos, varia de R$ 3 a R$15. Os romeiros que visitam Juazeiro do Norte compram as pomadas e dos bálsamos com a promessa de se livrarem de toda sorte de doença, mas os efeitos colaterais podem ser mais graves que a própria enfermidade que o fiel quer combater. “O pessoal vem de fora, leva pra casa, aplica e fica doente, mas a fé é tanta que nem imagina que seja culpa do bálsamo”, diz o inspetor sanitário.
A venda dos produtos é feita em maior parte na colina do Horto – ponto mais alto da cidade e local onde estão localizados a estátua de Padre Cícero e um memorial com imagens de cera do religioso. O lugar é administrado pela Congregação Salesiana.
O administrador do Horto, padre José Venturelli, afirmou à reportagem do iG que já havia uma preocupação com a venda de falsos remédios caseiros no local. Segundo ele, algumas pessoas estavam fervendo óleo de soja com pequi – fruta nativa do cerrado brasileiro muito utilizada na cozinha nordestina – como se tivesse propriedades medicinais. “Nós conseguimos impedir a continuidade desse comércio”, conta.
Segundo padre Venturelli, além disso, a administração do Horto também convidou um especialista em medicina popular para consultar cartas e livros escritos por Padre Cícero guardados no Museu de Padre Cícero para, a partir daí, orientar a população sobre as verdadeiras fórmulas receitadas pelo clérigo. “Padre Cícero consultava por cartas fiéis que escreviam para ele pedindo ajuda para curar doenças”, relata Venturelli.
Hoje, no memorial e no museu que homenageiam o religioso, existem milhões de peças em madeiras que reproduzem partes do corpo humano. Essas réplicas são deixadas por romeiros que se curaram de doenças e atribuem isso à graça divina por meio de promessas feitas a Padre Cícero.
Fonte: Ig
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